segunda-feira, 14 de março de 2011

Prazer em não conhecê-lo!


Eu nem sei bem ao certo quem é você. Sei que é uma foto que não se deixa ser desvelada por qualquer pessoa com os óculos escuros tampando as janelas de sua alma. Não tive ainda a chance de ver seus olhos, de sentir seu cheiro e compreender no movimento de seu corpo suas manias. Até aquele dia eu sequer sabia que você existia. Era tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.
Mas o destino, este anjo próximo de Deus, fez com que você me olhasse com olhos de quem quer ver e deixar “qualquer coisa” que me fizesse pensar sobre este enigma de conhecer você, de desvendar por trás da lente o homem. Conheci seu avesso. Sua parte mais nobre ofertada no espaço virtual que até este momento é a única coisa que nos une. Senti sua infância nas imagens escolhidas pela memória de suas sensações. Ventilei em meus pensamentos como você nadava e pescava naquele rio, o motivo do ipê te olhar tão verdadeiramente ao ponto de você ser seduzido pelo amarelo em contraste com o azul no quintal de sua casa de infância. Imaginei as nuvens que se movimentavam sob você e sua curiosidade quase infantil de encontrar formas em algo tão frágil. Refleti sobre a sua paixão pelas asas e a necessidade quase visceral de ver o mundo através de outros ângulos, de novas percepções. Invadindo aos poucos seu universo compreendi, mesmo sem te conhecer, que voar é realmente um verbo que combina bem com você.
Neste jogo de puzzle fui juntando as peças que você mesmo me ofertou para conhecê-lo. Fui criando sua personalidade, seu cheiro, sua essência para sentir uma proximidade que quase não existe devido a tela nos separa.
Você é o longe, a miragem, as estradas, os devaneios. Você é o lado frágil que busco sentir nas pessoas; você é a coragem que eu quase não encontro nos homens; você é a docilidade de quem sabe que o mundo; no dizer de Merleau-Ponty; é aquilo que vemos, mas que ao mesmo tempo é preciso aprender a vê-lo. Você é guiado pela racionalidade estética, reconhece o belo que é ofertado todos os dias para os corações ingênuos. Você é a música serena que relaciono sempre que penso em natureza. Você é sonho ou talvez concretude.
Nem sei ao certo quem é você. Podemos passar um pelo outro em alguma rua e não nos reconhecermos. Nossos corpos ainda são familiares. Não conheço o mapa de sua anatomia, as marcas de infância, o local que de dá prazer carnal, o local que te apraz no deslizar das mãos. Mas sei que você é fragmento de muitas coisas que eu aprecio e talvez, por esta razão no encontro de corpos, depois deste encontro de almas eu o chame um dia de meu homem.

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