terça-feira, 12 de maio de 2015

Prece dos Desesperados

Meu Deus prometo que não deixarei de frequentar o mundo que você fez para mim. 
Oriente-me para os shows de Bethânia e Caetano; mostre-me cara a cara com Kandisky e Caravaggio; dê-me a chance de ver Fernanda Montenegro no palco; dê-me dez minutos dessa vida ordinária para ler Pessoa; Drummond ou Adélia Prado. 

Pai tenha misericórdia da minha vidinha medíocre e me faça sentir plena com a arte, pela arte e na arte! 



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Do quarto andar de um prédio qualquer

Sinto falta grande daquela sensação que eu tinha quando eu colocava a chave na fechadura da porta do apartamento e girava duas ou três vezes para abrir em direção ao meu reino. Não tinha nada além de poucos móveis e muitos sentimentos que dançavam pelo corredor. Era dona daquele espaço sem a menor necessidade de cuidar das palavras, da vestimenta (se tem pouca ou nenhuma roupa), da comida que fica posta na pia, da taça de vinho em plena terça-feira depois de corrigir pelo menos setenta provas de Filosofia de jovens que ainda não entendem a grandeza de refletir sobre si mesmo, o mundo e os outros. Que falta doída eu sinto do pouco espaço do lado de fora e muito espaço do lado de dentro. Falta do mofo no quarto e da cortina que escondia as imperfeições da parede, como fazem as mulheres com suas maquiagens escondendo as rugas que expressam a alegria e a tristeza de se viver! Falta de um quarto vazio que eu pudesse levar uma toalha e ver na janela do quarto andar a cidade crescendo, vivendo e morrendo diante dos meus olhos. Sou cosmopolita demais para morar perto de árvores. E não me culpem por amar tanto os concretos, os desenhos dos prédios, o cheiro de gasolina entre as ruas, as muitas pernas que andam de um lado para o outro sem dizer bom dia e o milagre em plena luz do dia quando se vê uma pessoa sorrindo ou chorando.
A televisão era pouco usada e, apenas uma. Mas existia a camaradagem entre mãe e filha na escolha dos programas. Cultura, jazz, culinária, política e entrevista...  Clipes de música, seriados ou programa de comédia da MTV. Precisava de novela nesse contexto? A cama tinha o tamanho exato para meus sonhos, anseios, lembranças e solidão. Mas a solidão também era companhia. Aquela branca. Aquela doce. Aquela que de repente se descobre a si mesmo e, no final das contas, vale a pena ter.
Saudades da estante. Poucos livros. Muitos livros. Dependia da sensação que se tinha no momento. Companheiros fiéis. Minha grande riqueza eram os livros postos de forma bagunçada. Gostava de colocar Sartre ao lado de Guimarães Rosa e ficava imaginando uma história dentro das histórias. E se Sartre caminhasse nos sertões de Guimarães, qual seria o final do existencialismo afinal? E se Martha Medeiros resolvesse escrever para Lispector e dizer que a vida no século XXI é muito mais entediante e, por isso, seria mais forte ainda seus livros e contos. Platão, Aristóteles conviviam na terceira fileira. Hoje eles se escondem dentro do armário como os prisioneiros da caverna do filósofo sem condição alguma de ensinar a beleza do saber. Gastava horas observando a velhice dos livros. Cada qual , assim como eu, carrega em si muita história. Livros adotados em sebos, livros resgatados, livros que cortaram oceanos para hoje fazerem parte de minha vida.
Saudade do jazz que se ouvia enquanto varria a casa e também a alma. Saudade de não precisar preocupar com nada ou quase nada! Saudade de ser egoísta e ser mais eu. Saudade de me pertencer sem a invasão autorizada dos outros em minha vida.
Qual é o preço do amor? Diria hoje que é alta demais. Afinal, quanto vale ser livre no quarto andar de um prédio no centro da cidade?


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Pensa(r)mento do dia.

( sobre o consumo exacerbado)

... curto mesmo é gastar não com o que me esconde mas sim com o que me desvela.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Milagre

O mesmo sol que se esconde na montanha que agora eu vejo é o mesmo que recebe aplausos nesse instante no Arpoador. Isso sim é o maior espetáculo da terra.



sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Pensa(r)ação do dia

A saudade que me maltratava o peito tem nome: eu.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Esperança em tom maior II


E quando não se tem o mar por perto me resta um pouco de Debussy no meio da tarde para apaziguar a alma inquieta. 


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Esperança em tom maior

Descobrir novos cantores como Cícero me dá uma esperança danada de que o mundo não acabará em funk