sábado, 17 de maio de 2008


E de repente, sem a menor explicação, uma vontade de agradecer. De dizer que já fiz tudo, ou quase tudo, o que quis. De falar que fico feliz em ouvir um roquezinho leve, ou um jazzinho francês. Que usei meu cabelo em camadas e agora o quero liso de novo. Que ajudei a todos os que pude. Que descia os degraus da da aula de ballet de bunda; que fui a muitos shows , mas que fico aturdida em multidões. Que chorei em meio a um bloco de carnaval. Que tentei fazer a dor passar dançando. Que dei cola em química, logo na disciplina que menos sabia e ainda sei. Que nunca gostei de esportes. Que já li livros que mudaram minha vida. Que meu primeiro CD foi do Vinícius de Moraes. Que sempre faltava nas primeiras aulas da faculdade. Que bebi chocolate quente em Teresópolis; que me perdi , em Buenos Aires e no Rio. Que me apaixonei. Que me decepcionei. que me apaixonei de novo e percebi que ainda não amei.Que andei por Ipanema de tarde, sem ter nada o que fazer. Que tinha medo do que tinha debaixo da cama. Que até hoje fecho a porta do armário pra dormir. Que já lambi o prato. Que já escrevi tantas cartas que não mandei. Que não achei o meu lugar. Que já trabalhei em lugares que não gostava. Que tive medo de que meus amigos partissem. Que era ruim em matemática. Que pintei meu cabelo duas vezes no mesmo dia. Que ia a matinês no Estrela. Que fiz amigos que não se parecem comigo. Que entendi alguém só de olhar. Que estou ansiosa pra todo o que resta...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Solidão





Clara era assim mesmo... Tinha um sorriso tão maior que ela mesma que as pessoas confundiam o amor pelo mundo que ela tinha com a postura de aceitar tudo nele.
Era uma moça doce, é certo, mas quem realmente conseguia vê-la com olhos de quem quer ver, percebia nela uma tristeza doída de andar, andar, percorrer corações e cidades e, bem no fundo, perceber num só peito sua solidão diante de tanta gente. Quem poderia entender o que ela é, se ela está neste mundo buscando com toda a delicadeza compreender o que ela é no devir da vida?Quem? Onde?Quem?

Conversava com toda gente, mas, ela sabia que conversava melhor com estrelas e silêncio! Tinha mais intimidade com filósofos e poetas, porque estes, como ela, não julgam mas apontam possibilidades de ser tornar melhor no mundo! E ela achava isto mais coerente e porque não dizer mais bonito!

Ela sabia que sua vida daqui pra frente, depois de ter compreendido sua solidão não seria mesmo fácil porque não deixará, com certeza, de dar amor e ouvidos, braços e abraços, palavras, cartões e cama em momento de dor do outro! Mas, ela sabe, lá no fundo, que ela nunca teve e nem terá o mesmo!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Retrato impressionista



Auto-retrato impressionista?
Minha composição é incompleta. Não há fluidez.
Há expressão, há humor e, por vezes, há luz ( como uma tela de Cèzanne).
Minha beleza é assimétrica, não começa nem termina. Fica suspensa num limbo entre o grotesco e o sublime. Depende de variáveis infinitas que não traduzem matemática alguma. Pelo contrário, apenas configuram redemoinhos caóticos de informação visual.
Minhas fotografias me revelam inacabada. Como uma oração sem predicado. Meus detalhes todos desorganizados. Arrastados e afastados por um vendaval de origem obscura. Gostaria de ser um impressionismo. Mas não posso, sou arte moderna, presa numa dimensão de tempo onde qualquer borrão pode ser julgado e todos são convidados a participar dos meus nuances. Exceto eu.